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Foto do escritorLuchelle Furtado

Idosos do Rudge reclamam da falta de mobilidade no bairro

Ônibus e calçadas são as principais críticas dos moradores com idade acima de 65 anos

Andar de ônibus é sempre uma dificuldade para quem já é idoso, seja pela altura das escadas ou pela lotação dos ônibus - Foto: Luchelle Furtado


Giulia Requejo

Luchelle Furtado


“Caí na escada do ônibus e quase morri. Eu fui subir a escada e o motorista não me esperou, acelerou e seguiu em frente, sequer prestou socorro; ele não fez nada. Depois tive que ir na UPA [Unidade de Pronta Atendimento] porque eu bati a cabeça e estava vomitando. Fiquei três semanas com dor de cabeça”.  O relato minucioso é da aposentada Nerci Munhoz Batista, 76, que mora no Rudge Ramos há 60 anos.


No entanto, ela não é a única que reclama do transporte público no bairro. Para os moradores que utilizam deste serviço a falta de opções e a baixa qualidade do serviço oferecido são os principais pontos negativos. “A maioria das vezes minha filha me leva aos compromissos, porque se for algo bem sério, não vai dar para esperar o ônibus”, reclamou a aposentada Maura Almeida, 81, que completa “O que eu acho pior são as freadas e as manobras que os motoristas dão, eu já cheguei a cair. Ele foi virar a rua, eu ia descer e estava no degrau de cima. Ai eu cai no debaixo. Fiquei uns dias com as pernas doendo. O motorista não fez nada, eu desci e ele foi embora."


A reclamação dos serviço de transporte público não se limitam ao atendimento:  há idosos que reclamam da altura dos ônibus, e afirmam que o transporte não está preparado para atender essa parte da população. “Esses ônibus são muito altos para a terceira idade. Quando eu pego, não consigo subir, meus braços não tem força. Normalmente as pessoas me ajudam a subir no ônibus.” disse Elsa Kanayama, 84. A amiga Kazue Furukawa, 68, também concorda. “Toda vez que vou descer, falo comigo mesma ‘Toma Cuidado!"’, porque a gente da terceira idade, se cair não levanta mais. Eu nunca caí, mas tomo muito cuidado."


Além disso, nos horários de pico, há pouca oferta de ônibus.  “A condução é péssima. Eu vou três vezes na semana para São Paulo, pego o ônibus ‘Sacomã’ e desço lá. Mas, ás vezes já vem do ponto inicial cheio. O ônibus quando é pequeno não para, de manhã cedo, às sete, sete e meia, é muito ruim”, aponta Marcelina Ramirez, 83.

Além dos ônibus, as ruas e calçadas do Rudge também são muito criticadas pelos idosos do bairro, como aponta Elisabeth Fernandes, 84. “Eu não ando direito, por isso eu não posso andar sozinha e ela (vizinha) vai comigo. As calçada são um lixo e cheia de sujeira. Eu  estou há 60 anos aqui [no Rudge], antigamente passava os homens para varrerem a rua, agora nem isso mais. Além disso as calçadas estão todas quebradas. Se elas fossem melhores, eu conseguiria andar sozinha.”


A idosa Nerci Munhoz ainda faz um desabafo sobre a dificuldade em envelhecer “Infeliz é quem vai envelhecer e tem algum problema nas pernas, como eu tenho pra poder caminhar. Não tem como ficar só em casa, eu preciso fazer as coisas e tudo é difícil; e eu sempre dou muitas voltas para conseguir chegar a algum lugar. Não estamos preparados para a população idosa. Os políticos ignoram e a gente sempre fica na pior."


Série sobre Idosos*

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