Aumento na expectativa de vida e a alteração na estrutura familiar contribuem para a consolidação deste fenômeno
Interação entre idosos em asilos é uma forma de anima-los em períodos alternativos - Foto: Luchelle Furtado
Luchelle Furtado
O Brasil é um país que vem envelhecendo gradativamente nos últimos anos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos em 2060. A projeção é de que em 20 anos a quantidade de idosos maiores de 60 será superior a de jovens com menos de 15 anos.
Com o aumento da perspectiva de vida, cresce também a discussão sobre os cuidados de longa duração com os idosos. Atualmente no Brasil, os homens têm uma expectativa de vida de 72,7 anos, e as mulheres, 79,8 anos. Outro dado preocupante nessa equação é a queda da taxa de fecundidade, com estimativa de 1,77 filhos por mulher.
De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento Social, desde 2012 o número de idosos instalados em abrigos ligados ao estado ou ao município cresceu, passando de 45.827 naquele período para 60.939, em 2017. Em uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em 2011, que considera a quantidade de pessoas em abrigos públicos e particulares, apontou a presença de 83 mil idosos nessas instituições.
Para a psicóloga Renata Ruy, a alteração na estrutura familiar é um dos fatores predominantes nas mudanças de hábitos com os cuidados dos parentes idosos. "Antes quem fazia o papel de cuidador dos pais e avós eram as mulheres, mas essa situação foi se modificando ao longo dos anos com a representatividade feminina no mercado de trabalho", explica. Renata completa que a longevidade é outro fator importante que contribui para a vida nos lares de idosos. "É um fenômeno mundial e depende de cada cultura. Em países de primeiro mundo já é sabido que na terceira idade as pessoas vão morar em uma casa de repouso”.
Psicóloga no Lar Nossa Senhora das Mercedes, em São Caetano, Renata conta que a ida para as casas de repouso são sempre complicadas para os idosos, uma vez que há uma mudança de hábito brusca em relação à vida que levavam anteriormente. As regras estipuladas e a convivência com pessoas estranhas também afetam a aceitação dessa nova realidade. “Há uma forte resistência no período de adaptação. Para 99% deles é um baque e bem dolorido", conta. Segundo Renata, existe um sentimento de perda em relação à casa e aos objetos de estima que deixaram para trás. "De repente a vida se resume a uma cama e a um criado mudo. Tudo o que a pessoa tem, suas lembranças e histórias, terão que caber ali. Isso é difícil”.
Renata também ressalta que a presença dos familiares no cotidiano dos idosos é fundamental para a adaptação, já que a casa de repouso deve ser usada como uma ferramenta para auxiliar no cuidado dos familiares. "O trabalho nessas instituições deve ser feito de forma adaptativa e adequada. Não é para deixar o familiar aqui e esquecer que ele existe. É uma construção de valor, porque isso ainda não está internalizado nas pessoas. A casa de repouso é uma ótima opção, mas tem que ter a presença da família”, ressalta.
Um novo lar
Maria Alzira Borga Conejero, 87, chegou ao Lar Nossa Senhora das Mercedes há dez anos. Ela conta que se mudar foi uma opção própria porquenão queria incomodar a família. “Eu tive uma depressão muito forte e não podia ficar sozinha. Hoje eu estou maravilhosamente bem e gosto muito das pessoas. Todos são carinhosos e tudo aqui me agrada. A gente se torna uma nova família e quando perdemos uma de nós, é um sentimento ruim”.
A família tem presença ativa na vida de Maria. “Meu filho sempre está aqui. Eu sabia que na minha idade, se ficasse sozinha em casa, seria motivo depreocupação para todos”.
Outra residente do Lar Nossa Senhora das Mercedes é Tereza Oliveira, 97, que chegou há três anos por decisão da filha. Ela conta que sente muita falta de casa e que tudo mudou desde a morte de seu marido, mas ainda assim se sente bem. “Gosto muito das pessoas porque elas conversam comigo”.
Animada, Tereza ressalta que faz apresentações de dança para dar alegria aos colegas de lar. "Elas me chamam de bailarina e falam que eu tenho quealegrar a todos. Me dou bem com todo mundo e gosto disso”.
Comments