Serena, alegre e apaixonada pela vida
Dona Lourdes, moradora do bairro Rudge Ramos desde 1945 conta um pouco de suas lembranças - Foto: Tamara Sanches
Luchelle Furtado
Tamara Sanches
Nascida na cidade de Itapetininga, dona Lourdes veio morar no Rudge em 1945, quando tinha apenas sete anos de idade. Descendente de americanos, vivia em uma chácara com os pais e o irmão na Via Anchieta, quando o bairro ainda não era nem asfaltado. Andar a cavalo era uma de suas atividades favoritas. Assim, ela sentia a liberdade de desfrutar do ar puro das árvores.
Na juventude, estudou datilografia na Universidade Metodista, mas foi ajudando as pessoas necessitadas que dona Lourdes descobriu seu verdadeiro dom. Trabalho remunerado? Ela não tinha tempo. “Eu nunca trabalhei porque sempre estive preocupada em ajudar os outros”. Costumava fazer campanhas para doar roupas e mantimentos às crianças carentes da Vila Vivaldi. “A gente ia lá, a criançada vinha e abraçava, porque sabia que saía alguma coisa para eles”.
Com a alma caridosa, ela não tinha vergonha de pedir ajuda. Procurou até mesmo o famoso engenheiro Salvador Arena, que é nome do Parque Municipal do bairro. “Ele me ajudou muito. Fiz uma campanha para crianças que passavam fome, e ele me deu 800 litros de leite. A gente não tinha amizade, mas tinha uma ligação espiritual muito grande”, acredita dona Lourdes, que tem orgulho de participar da religião espírita.
Além de gostar de ajudar as pessoas, o amor faz parte de suas virtudes. Conheceu o marido Álvaro por acaso, enquanto nadava na chácara em que morava. Foi amor à primeira vista. Após este momento, ela nunca mais se desligou dele. Dona Lourdes costumava assistir às partidas no campo de futebol do bairro, na Av. Caminho do Mar, onde Álvaro competia todo final de semana, quando os dois ainda eram namorados. Adorava torcer para o “jogador de mão cheia”, como ela diz com orgulho das boas lembranças que ainda permanecem consigo.
Com a posse do prefeito Geraldo Faria Rodrigues, em São Bernardo, o campo de futebol passou a ser praça. Foi Álvaro, marido de dona Lourdes, que escolheu o nome de Praça dos Meninos, que permanece até hoje como um dos pontos mais importantes do bairro.
Dona Lourdes é mãe de um casal, Álvaro Júnior e Doris. Os dois foram nascidos e criados no Rudge. Ela conta que ainda gosta de morar no bairro e não pensa em ir embora tão cedo. “Aqui tem um ar que lembra a minha mocidade, minha vida passada. É a recordação”.
Hoje, aos 91 anos de idade, dona Lourdes aprecia a nostalgia que sente quando se lembra das coisas importantes que viveu, dos amigos que fez, do quanto se doou para ajudar as pessoas necessitadas. Mas ela suspira ao dizer que sua saudade mais intensa aparece nas lembranças de quando vivia com o marido Álvaro, que morreu em 2011.
Atualmente vive na casa da filha mais velha, Doris, e costuma viajar nos finais de semana para visitar a neta Valentynna, de 5 anos, por quem tem muito amor e ternura. Aposentada, dona Lourdes não anda mais sozinha pelo bairro por medo da violência, mas é ela quem cuida de suas contas e, mesmo um pouco debilitada pela idade, ainda gosta de se manter independente. As histórias de que tanto se orgulha e a paixão pela vida sempre permanecerão como parte dela.
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