Das 87 escolas presentes na cidade, apenas quatro são preparadas para alunos surdos ou cegos
Alunos deficientes recebem atendimento especializado com auxílio dos professores - Foto: Luchelle Furtado
Letícia Rodrigues
Luchelle Furtado
Tamara Sanches
De acordo com a Lei Federal 13.0005/14, todas as escolas públicas de Educação Básica devem oferecer infraestrutura de acessibilidade às pessoas com deficiência até 2024. O MEC (Ministério da Educação) proporcionou um debate nacional quando propôs para a redação da última edição do ENEM o tema “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Além disso, foi a primeira vez que o Exame atribuiu Videoprovas em Libras (Linguagem Brasileira de Sinais).
Santo André conta com quatro escolas estaduais de atendimento especial a alunos com deficiência visual e auditiva. A única instituição de ensino da cidade que oferece estrutura para alunos cegos é a E.E. Prof.ª Inah de Mello, no bairro Parque das Nações.
As escolas Prof.ª Carlina Caçapava de Mello, bairro Santa Terezinha; Dr. Celso Gama, bairro Vila Assunção; e Paulo Emílio Salles Gomes, bairro Jardim Irene; são as que realizam apoio pedagógico para surdos por meio de Sala de Recursos.
Para estimular a imaginação dos alunos deficientes, o MEC desenvolveu as Salas de Recursos. Com atendimento especializado e atividades realizadas fora do período de aula regular, as salas contém equipamentos de informática, materiais didáticos e pedagógicos para atender as necessidades especiais de cada aluno, promovendo a educação inclusiva.
A Sala de Recursos para deficientes visuais da Escola Estadual Prof.ª Inah de Mello contém lupas eletrônicas, máquina e impressora em braile. Os alunos ganham um notebook com sintetizador de voz para ser utilizado durante todo o período do ensino médio.
Rian Cristian de Oliveira Ferreira, 12, frequenta o período da tarde e recebe orientação na Sala de Recursos de manhã. “Eu estou satisfeito, a escola é muito boa. Tem atendimento direto a mim e todos gostam muito de nós”.
No entanto, Erika David Suzuki, coordenadora pedagógica do ensino fundamental na E.E Prof.ª Inah de Mello, explica que a situação está longe do ideal, já que a realidade da rede pública é complexa e a inclusão não acontece como deveria. “Falta infraestrutura tanto pessoal quanto física mais adequada e mais capacitação por parte dos professores, já que muitos não foram formados para trabalhar com cegos”.
Deficiência Auditiva
A Escola Estadual Prof.ª. Carlina Caçapava de Mello oferece ensino Fundamental II e Médio para cerca de 600 alunos no período da manhã e tarde. O coordenador pedagógico Carlos Eduardo Marques explica que a inclusão é feita na sala de aula comum, tendo especificidades para cada tipo de necessidade.
No cargo há nove anos, Marques conta que a conscientização do corpo docente foi possível após a realização de uma palestra mediada em Libras, com intenção de ilustrar o desafio do aluno surdo em uma sala de ouvintes. “A sociedade não está preparada para lidar com o cidadão deficiente”.
A professora Márcia Betânia, responsável pelo atendimento na Sala de Recursos na instituição E.E. Carlina Caçapava de Mello, explica que algumas famílias não costumam ter conhecimento de Libras – o que retarda o processo educacional desde a infância. Ela afirma que a maioria dos estudantes não apresenta o mesmo nível de surdez ou de alfabetização. “Não é feita uma sondagem do sistema, do governo. Não se pesquisa quantos surdos têm no bairro, por exemplo”.
Por intermédio da intérprete de Libras, Aracele Cristina Pita, o estudante Michael Oliveira Santos, 20, conta que não se sente bem em uma escola regular. “Lidar com ouvinte é difícil. Eu me sentiria melhor em uma escola só de surdos porque eu aprenderia mais”.
Para Aracele, que convive com surdos há 10 anos, a inclusão tem que partir dos alunos ouvintes e dos professores, mostrando interesse e aproximação com os deficientes auditivos. “Tem que ter vontade de aprender, de ter uma troca, é um conjunto: a escola toda”.
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